Na reunião, a Fundação Neotrópica do Brasil apresentou os resultados de seu monitoramento que, conforme notícias divulgadas na imprensa, apontaria presença de agrotóxicos nas águas do Rio Formoso, que é o principal rio do município.
A apresentação foi feita pelo Conselheiro da ONG Fundação Neotrópica do Brasil, Guilherme Dalponti, que descreveu os resultados de dois momentos de coleta, sendo um em 2023 e outro em 2024, em que foram apresentados traços de presença de agrotóxicos na bacia hidrográfica do Rio Formoso. Após, os demais Conselheiros do COMDEMA fizeram perguntas para compreender tecnicamente a realização e a conclusão estudo.
Todos agradeceram a iniciativa da ONG, mas apontaram que o relatório apresenta inconsistências e falta de informação quanto à descrição metodológica envolvendo datas, equipamentos utilizados, locais de coleta e ausência de variabilidade estatística. Inclusive foi trazido à tona o fato de que o laboratório que realizou a verificação não é acreditado para realizar análise sobre presença de agrotóxico em água, fato que somado às outras inconsistências fragiliza os resultados finais.
Também questionaram o fato de que os traços apresentados na pesquisa exploratória identificaram grau de contaminação muito abaixo do limite permitido pela legislação ambiental, segundo parâmetros da Resolução CONAMA 357/05, e também pela legislação do Ministério da Saúde, na portaria GM/MS 888/21. Como por exemplo o Tiamexotam que foi encontrado no Córrego Anhumas com 0,050 quando o valor máximo permitido pelo Ministério da Saúde para potabilidade da água é de até 36 miligramas por litro. Ou seja, o percentual encontrado é de aproximadamente 0,13% do máximo permitido.
Outro destaque que foi apresentado é o fato de que estes traços de agrotóxicos não foram identificados no Rio Formoso, como havia sido divulgado nas matérias disseminadas nos últimos dias, mas sim em rios e córregos menores de sua bacia.
Entretanto, apesar da fragilidade da pesquisa, os conselheiros entenderam que o assunto requer muita atenção e acompanhamento continuados uma vez que Bonito, e o Planalto da Serra da Bodoquena, inspiram um cuidado diferenciados quanto à conservação de seus recursos hídricos. E isso se dá em razão do solo cárstico que pode ser comparado a um queijo suíço, com águas subterrâneas, sumidouros, ressurgências e cavernas, que demandam de fato monitoramentos ambientais constantes e estudos científicos aprofundados e sérios, para que sua integridade seja mantida.
A Presidente do COMDEMA, Marla Diniz Brandão Dias, afirmou que “a qualidade das águas em Bonito é uma questão que merece toda a atenção, não apenas acerca do equilíbrio ambiental mas também com relação a saúde e economia”. Ressaltou que há muitos trabalhadores, como guias de turismo e remadores, além de turistas que têm contato diário com o Rio Formoso, por isso é preciso tomar cuidado com informações distorcidas e pautar-se sempre em estudos que observem parâmetros legais e científicos válidos, sob o risco de divulgação de Fake News.
Ela disse também que é de suma relevância realizar monitoramento sobre a presença de agrotóxicos e outras substâncias nocivas nas águas de Bonito, mas que o COMDEMA nunca foi comunicado sobre esse estudo da Fundação Neotropica do Brasil, que a pauta nunca foi solicitada nas reuniões e que os conselheiros e órgãos oficiais de meio ambiente só souberam do resultado do monitoramento por meio da internet. Marla ressaltou ainda que “o Conselho de Meio Ambiente de Bonito foi criado em 1986 e tem uma história muito forte de atuação nas políticas públicas municipais, o que o habilita a ser respeitado como instância oficial de governança local”.
Depois de quase 4h de reunião os conselheiros aprovaram a proposta de contratação de empresa ou entidade parceira para criação de um programa de monitoramento de agrotóxicos nas águas da bacia hidrográfica do Rio Formoso (com possibilidade de expansão para demais Rios Cênicos da região) que ocorra de maneira contínua e perene. A metodologia científica e os pontos de coleta deverão considerar os diferentes usos e ocupações do solo ao longo do ano, bem como impactos climatológicos, tendo a participação dos Conselheiros nesse processo e no acompanhamento de coletas e análises. O objetivo é criar uma averiguação oficial que possa ser auditada e balize as políticas públicas de meio ambiente na região.