Os mais de dois mil km de distância não impedem que Mato Grosso do Sul tenha um pedaço do Nordeste. Em Anastácio, onde 56% da população descendem de nordestinos, basta somar forró, cordel e comidas típicas.
Há seis anos a cidade celebra suas origens com a Festa da Farinha. Estrela da comemoração, a farinha de mandioca é produzida artesanalmente em colônias nos arredores de Anastácio.
Locais que reúnem nordestinos, principalmente de Pernambuco, desde antes de o município ser criado. Anastácio completa 46 anos na segunda-feira, enquanto a colônia mais conhecida, a do Pulador, já passou dos 90.
Mas nos tempos idos, época em que só existia Aquidauana e mais esquerda, como era conhecida a vila onde hoje é Anastácio, a farinha não era exatamente um sucesso de gosto popular. Quem conta é o sergipano Aristeu dos Santos, de 62 anos.
“O pessoal daqui não tinha hábito de comer farinha. Meu pai levava um saco para vender em Aquidauana e não vendia tudo. Depois, passou a vender cinco sacos”, recorda. Hoje, ele se orgulha de ter fabricado 1.500 dos 4 mil quilos que sustentam o saco de farinha colocado no meio da avenida Porto Geral, local da festa. O atrativo é anunciado pela organização como o maior saco de farinha do mundo.
Para Aristeu, a fabricar farinha é ofício de toda uma vida. A técnica ele aprendeu com o pai. “A gente prepara a terra, planta, espera dez meses para a mandioca ficar pronta. Volta na roça, colhe e prepara a massa”.
Já nas farinheiras, a massa é seca e passa por prensa até chegar ao tacho para torrar. Gradualmente, os produtores ganham auxílio. Como o motor que substitui pessoas no processo de secagem da massa.
Mas, nos tachos, permanece o trabalho manual. Para torrar 50 quilos de farinha, é necessário duas horas ao lado de fornos, alimentados por lenha, a altíssimas temperaturas. A produção é vendida por meio de cooperativa aos comécios da região.
Surpresa – O reduto nordestino na cidade onde começa o Pantanal surpreendeu a funcionária pública Euzinete Cavacante. Devido à transferência do marido militar, ela trocou Fortaleza (CE) por Mato Grosso do Sul. Primeiro, morou em Bela Vista, depois, veio para Anastácio.
“Comecei a perceber pelo sotaque. Até me admirei em ver tanto nordestino por aqui”, afirma. Membro do CTN (Centro de Tradição Nordestina), ela comanda uma das barracas de artesanato.