O telefone do aposentado Onivaldo Zanetti, 70 anos, não para de tocar. Do outro lado da linha golpistas tentam ludibriar mais uma vítima. Contudo, Zanetti está atento e já recomenda: “tem que desligar e pedir o bloqueio. Banco não liga para a gente e nem pede dados pelo telefone”.
Como ele, muitas pessoas acima de 60 anos enfrentam todos os dias a esperteza de alguns e a ausência de suporte, conhecimento ou mesmo compreensão de outros. Assim, eles recorrem aos serviços públicos em busca de orientação e da garantia de seus direitos.
Dos atendimentos realizados pelo Procon/MS (Secretaria Executiva de Orientação e Defesa do Consumidor), no período de 1º de janeiro a 25 de junho de 2024, 22% deles foram de pessoas idosas. A principal queixa esteve associada aos serviços financeiros como os cartões de crédito, débito, de loja, crédito consignado e seguros.
O secretário-executivo do Procon/MS, Angelo Motti, explica que as mulheres (52%) são as que mais têm buscado o suporte da instituição vinculada à Sead (Secretaria de Assistência Social e dos Direitos Humanos).
Motti anunciou durante o evento Priorizando Direitos 60+, na sexta-feira (28), que haverá uma sala no atendimento presencial dedicada a tratar os casos mais complexos desse público, a fim de humanizar a atenção prestada. “Precisamos mudar como vemos a pessoa idosa”.
Informação contra golpes
Na avaliação do defensor público e coordenador do Nuccon (Núcleo de Promoção e Defesa do Consumidor e Demais Matérias Cíveis Residuais), Carlos Eduardo Oliveira de Souza, é preciso conscientizar as pessoas sobre seus direitos, a fim de que elas com o conhecimento adquirido possam identificar situações de abuso e adotem o “não”, quando compelidas a emprestar seus dados e cartões para compras de familiares e terceiros em seu nome.
A também defensora pública e coordenadora do Nudedh (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos), Thaisa Raquel Medeiros de Albuquerque Defante, esclarece que notificar os casos de violência contra a pessoa idosa, inclusive os relacionadas as finanças, possibilita compreender melhor o cenário e estabelecer ações mais efetivas na garantia de seus direitos.
Sobre os golpes, eles podem ocorrer nos mais diversos formatos. O delegado titular da Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo), Reginaldo Salomão, lista o registro nesse ano de 145 ocorrências em que idosos passaram por situações como retenção de seu cartão ou mesmo estelionato. Em grande parte das vezes a lesão ocorre por parte de um familiar. “Se desconfiar que está sendo lesado, procure a delegacia”, pontua.
O especialista em finanças Luis Serrano lembra que, para além do núcleo familiar, os bancos e financeiras também se aproveitam do nível de conhecimento dos idosos para vender produtos e serviços. Por isso, é importante buscar orientação qualificada para evitar comprometimento emocional e financeiro em suas relações com o dinheiro.
Já a presidente do Conselho Estadual da Pessoa Idosa, Ana Maria Thimóteo, complementa que para o suporte, informação e registro de denúncias sobre violações de direitos há uma rede de apoio disponível por meio do Disque 100 (nacional) e Disque 181 (estadual). Nos casos que envolvam relações de consumo, as pessoas idosas podem ligar no Disque Denúncia 151.