A egressa do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), unidade de Dourados, Indianara Ramires Machado, é a primeira indígena a defender o trabalho de mestrado na Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo (USP).
Indianara defendeu com sucesso a dissertação intitulada “Análise interdisciplinar e intercultural sobre as pessoas vivendo com Vírus da Imunodeficiência Humana e a Síndrome da Imunodeficiência na população Guarani da Terra Indígena de Dourados em Mato Grosso do Sul”.
“Fico muito honrada em ser a primeira indígena defendendo trabalho de mestrado em 110 anos da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo”, declarou Indianara ao Informativo Adusp (Associação de Docentes da Universidade de São Paulo). “Esperamos que nossa pesquisa venha contribuir para as melhorias nas políticas de saúde ofertadas para os Povos Indígenas”, completou.
Referência de saúde pública entre os povos indígenas, Indianara atuou como enfermeira numa unidade básica de saúde da aldeia Bororó (2013-2017) e depois como coordenadora técnica do Polo Base de Dourados do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Mato Grosso do Sul, vinculado à Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do governo federal (2017-2020).
Pertencente à etnia Guarani Kaiowá, Indianara graduou-se no curso de Enfermagem na Unidade da UEMS em Dourados no ano de 2011. “Sempre gostei de cursos que são da área da saúde. Minha formação sempre foi uma construção coletiva, para mim, minha família e principalmente para a comunidade indígena”, contou.
Mestrado
Esse foi o primeiro título de mestra concedido pela Faculdade de Medicina a uma indígena desde que a instituição existe, em 1913. Indianara Kaiowá, como é conhecida, teve como orientadora e coorientadora no mestrado, respectivamente, as professoras Maria de Lourdes Beldi de Alcântara e Cláudia Maria de Castro Gomes, ambas do Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Experimental e do Laboratório de Patologia das Moléstias Infecciosas (LIM-50).
Indianara resumiu as dificuldades que precisou superar para completar o curso de graduação: “Eu morava na aldeia Bororó, não tínhamos transporte para a universidade, me deslocava até o ponto de ônibus mais próximo que ficava a 2,5 quilômetros de casa na aldeia Jaguapirú, para assim me deslocar até o terminal e então pegar o ônibus para a faculdade. Recebia o Vale Universidade Indígena [benefício instituído pelo governo estadual], que ajudava nas despesas”.