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Como Bonito, paraíso do ecoturismo, ajuda a frear o aquecimento global

Cidade de Mato Grosso do Sul atingiu o carbono neutro com novas práticas sustentáveis

5 Fev 2024 - 08h24Por Estadão

Com pouco mais de 22 mil habitantes e a quase 300 quilômetros da capital Campo Grande, o município de Bonito se tornou no final de 2022 o primeiro destino de ecoturismo de Mato Grosso do Sul e do Brasil a receber o selo de carbono neutro, um certificado da empresa Green Initiative, credenciada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Com destinos paradisíacos entre o Cerrado e a Mata Atlântica do Centro-Oeste, a cidade agora tem se esforçado para manter a certificação e transmitir esse conhecimento aos turistas, que quase dobraram desde que as iniciativas sustentáveis se tornaram mais presentes.

O passo inicial para que Bonito atingisse o carbono neutro foi dado oficialmente pelo próprio Mato Grosso do Sul quando, ainda em 2014, o governo publicou uma lei que prevê o mesmo objetivo para todo o Estado até 2030, antecipando em duas décadas os termos firmados no Acordo de Paris.

Ainda assim, o mérito da cidade também se deve a um trabalho construído muito antes.

“Bonito já tem um trabalho de turismo sustentável em áreas naturais há mais de 30 anos. Ano a ano, a gente vem implementando o trabalho de organização do turismo por capacidade e carga dos atrativos, como o voucher único”, conta Juliane Salvadori, secretária do Turismo de Bonito.

Foi em 2021 que a busca pelo certificado começou oficialmente. No ano seguinte, a administração municipal contratou a consultoria da Green Initiative para fazer uma avaliação dos pontos fracos, fortes e oportunidades de melhoria em Bonito. “Enviamos ofícios a todos os postos de gasolina, solicitando os dados referentes à venda de combustível, e para as distribuidoras de gás; fizemos um levantamento de toda a quantidade dos resíduos gerados pelo município, da energia elétrica…”, detalha Juliane.

Ao final de 2022, a prefeitura de Bonito fez a compensação do saldo negativo comprando créditos de carbono, neutralizando assim as emissões referentes ao ano anterior. “Essa foi a primeira etapa. Agora estamos continuando o projeto, elaborando o plano de mitigação para toda a cidade”, explica Juliane. “Já temos uma referência das emissões, então queremos fazer uma projeção até 2030 para diminuir as nossas emissões.”

Um dos avanços palpáveis da sustentabilidade no Estado é que, nessa primeira etapa, os créditos de carbono comprados por Bonito vieram de uma área protegida na Índia. Hoje, é possível colocar em prática o mesmo processo através de outros municípios sul-mato-grossenses já credenciados.

“Foi um trabalho bacana, mas bem desafiador. É um assunto novo para todo mundo e também estamos aprendendo muito com isso”, diz Juliane. “Ainda precisamos ter uma persistência muito grande para conseguir levantar os dados. Na minha avaliação, o mais importante é continuar o esforço e ver que algumas empresas têm feito sua própria certificação de carbono zero.”

Corrente do bem

Além do reconhecimento do próprio município, Bonito recebeu por tabela um segundo certificado pela Estância Mimosa, considerado o primeiro destino turístico do mundo “Climate Positive”, quando o sistema utilizado absorve mais do que o carbono emitido pelas atividades desenvolvidas. Localizado em uma reserva particular de patrimônio natural com mais de 420 hectares, dos quais apenas 35 são explorados para o turismo, o local guarda trilhas, cachoeiras e florestas paradisíacas que o transformaram em um dos destinos mais procurados da região.

Inaugurada para o turismo em 1999, a Estância é hoje um local de carbono positivo, mas ainda assim tem implementado novas formas de aumentar as práticas sustentáveis em todo o seu território. Além da compostagem, redução de resíduos sólidos e utilização da energia solar como fonte primária, agora tenta aumentar a área de floresta para produzir alimentos orgânicos.

O trabalho de formiguinha começou há 25 anos, mas tem dado resultados positivos que se espalham pela região. A máquina de café expresso foi aposentada e agora a Estância só tem grãos moídos na hora; os processados deram lugar aos alimentos orgânicos de produtores locais; os refrigerantes em lata ou garrafa de plástico foram trocados por versões retornáveis ou sucos naturais; até o papel higiênico jogado no lixo dos banheiros é usado para a compostagem, segundo Eduardo Coelho, proprietário da Estância.

Mas um dos maiores orgulhos de Coelho é a forma como ele ajudou a recuperar o Rio Mimoso e o Rio Prata, resgatando nos últimos dois anos a mata ciliar para que o curso de água não morresse em épocas de seca e tentando expandir a mesma conscientização para os vizinhos.

“Não adianta cuidar muito bem da fazenda e ter vários outros com práticas inadequadas. É um trabalho difícil, o proprietário tem que permitir você entrar e mostrar como fazer diferente”, conta. “A gente faz muita força pra ser exemplo e inspirar melhores práticas nas pessoas.”

Esse é o mesmo objetivo de Silvia Schmidt, sócia-proprietária do Hotel Paraíso das Águas, no centro de Bonito e o primeiro do Estado a receber o certificado de lixo zero. “Nós iniciamos nosso processo junto com a cidade. Fazendo a gestão correta do lixo, diminui muito a emissão de carbono. Não é só ter, é manter o certificado. Requer um trabalho de todos ao longo do tempo, uma certa constância.”

“Para nós foi importante e para a cidade auxilia, mostrando às outras empresas que é possível estarmos juntos nisso”, continua Silvia, que desbanca a ideia de que ser sustentável é caro e dói no bolso. “O nosso trabalho não tem aumento de custo, você reduz muito quando organiza a sua atividade e começa a descobrir que tem desperdício e joga muita coisa fora.”

Para além dos colegas empreendedores e comerciantes, ela tenta passar essa mesma ideia de consciência ambiental aos turistas. “Estamos fazendo a parte da educação ambiental. O turista é ator parte da história.”

No ano passado, o total de turistas que visitam a cidade saltou de uma média de 200-210 mil para 330 mil, um recorde histórico para o município. Mas, Bonito não pensa em parar por aqui e já faz planos para o futuro, como transformar toda a frota de automóveis em carros elétricos, segundo Juliane. “É um reflexo da essência do que é Bonito. É mais um passo que Bonito dá nessa direção do cuidado com a natureza.”

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