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Cultura

Com apoio do Governo do Estado, Feira Literária de Bonito começa nesta quarta-feira

5 Jul 2023 - 07h25Por Rod Ostemberg e Ana Ostapenko Comunicação FCMS

O Governo do Estado de Mato Grosso do Sul estará presente na 7ª Flib (Feira Literária de Bonito). O secretário de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania e diretor-presidente da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), Marcelo Miranda, já confirmou presença na abertura oficial.

Além do apoio logístico, a Fundação de Cultura participará de duas atividades literárias: a gerente de Patrimônio Histórico e Cultural, Melly Sena, mediará, na quinta-feira (6), uma conversa com a escritora brasiliense Paulliny Tort; na sexta-feira (7), a mediação ao lado da curadora da Flib, professora doutora Maria Adelia Menegazzo, será com o escritor mato-grossense Joca Reiners Terron.

Melly Sena, que ainda terá uma agenda extra com o diretor de livro, leitura, literatura e bibliotecas do Ministério da Cultura, Jéferson Assumção, enfatiza a importância das ações como as feiras literárias. “Elas são essenciais para o desenvolvimento da cadeia do livro, leitura, literatura e bibliotecas. A participação da Fundação de Cultura visa incentivar e colaborar com a difusão literária. Queremos que ações com a Flib aumentem cada vez mais em nosso Estado, transformando Mato Grosso do Sul em um estado cada vez mais leitor”, destaca.

Talentos da literatura contemporânea

Escritores da literatura brasileira vão apresentar em uma das mais importantes cidades do ecoturismo suas obras aos alunos, educadores, visitantes, futuros escritoras e escritores. É uma o oportunidade de democratizar o acesso à leitura. Entre os autores e autoras estão, de Brasília (DF), Paulliny Tort; São Paulo (SP), Daniel Galera e Mel Duarte; e de Cuiabá (MT), Joca Reineres Terron.

Paulliny Tort é jornalista e Mestre em Comunicação e Sociedade pela UnB (Universidade de Brasília). Erva brava (Fósforo), seu primeiro livro de contos, foi vencedor do prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e finalista do prêmio Jabuti 2022. Estreou na literatura em 2016, com o romance Allegro ma non troppo (Oito e Meio), semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura.

Indagada sobre o que mais lhe encantou no projeto da 7ª edição da Flip, Paulliny Tort foi enfática. “O tema da edição, visto que, pelos riscos à manutenção da vida, a natureza é nossa pauta mais urgente”.

Inquietação

O escritor Daniel Galera também é um dos mais conhecidos nomes da literatura contemporânea que estará na Flip deste ano. Em sua obra mais recente (2021), “O Deus das Avencas”, ele narra um mundo em rápida transformação com três histórias, que vão do passado recente ao futuro distante, e falam de expectativas e perdas, e de como reconstruir a vida.

Daniel Galera expande as possibilidades da literatura nas três novelas em “O Deus das Avencas”. Abre o volume com a história de um casal fechado em casa à espera do nascimento do primeiro filho e que mergulha numa incerteza crescente, tanto pelo destino deles quanto pelos rumos do país. Em “Tóquio”, o escritor abandona a narrativa mais realista ao retratar a vida de um homem solitário, obrigado a enfrentar o passado em um mundo que atravessou um desastre ambiental e tecnológico. E, finaliza, em “Bugônia”. Ele recria a história de uma comunidade pós-apocalíptica em simbiose com a natureza, e que, pressionada pelas ameaças externas de um planeta devastado, precisa se transformar de forma radical.

Daniel Galera viveu boa parte da adolescência e vida adulta em Porto Alegre (RS). Formado em publicidade pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), escreve e atua como tradutor literário. Daniel Galera foi um dos precursores do uso da internet para a literatura. Editou e publicou textos em portais e fanzines eletrônicos. Em 2008 foi lançado um dos seus livros mais aclamados: “Cordilheira”. A obra rendeu ao autor o Prêmio Machado de Assis de Romance, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional em 2008, além do 3º lugar do Prêmio Jabuti. Em 20012, “Barba ensopada de sangue” rendeu novamente o 3º lugar no Prêmio Jabuti e foi o vencedor da categoria de Melhor Livro do Ano no Prêmio São Paulo de Literatura 2013.

Humano

Mel Duarte é poetiza, escritora e produtora cultural brasileira. Foi a primeira mulher a vencer o campeonato internacional de poesia Rio Poetry Slam (RJ), em 2016, e é uma das organizadoras do Slam das Minas em São Paulo (SP). Sua obra mais conhecida é o livro de poesia Negra Nua Crua (2016), publicado de forma independente. A obra carrega 75 páginas de poesias que retratam, de forma arrebatadora, as vivências, inquietações, dores e experiências da mulher negra contemporânea sob a sua própria ótica: a autora, a partir de si, generaliza a condição do sujeito feminino negro e expõe em versos o que cerca esse ser por vezes estereotipado ao longo da literatura brasileira, mas que vem ganhando voz – e representatividade nas escritas atuais.

O livro é dividido em três partes: na primeira, “Negra”, a autora perpassa pelas questões raciais, sociais e de gênero que cercam a mulher negra do século XXI. Fala de preconceito, solidão e maternidade, Mel Duarte reafirma a negritude numa voz que ecoa e traz para os seus poemas uma visão diferenciada sobre o sujeito de quem se fala. Este, por sua vez, será uma pessoa que enfrenta dramas cotidianos, ama o seu cabelo, as suas raízes negras e a sua luta. No poema “Melanina”, a autora afirma:

"Preta: Mulher bonita é que vai à luta! / Quem tem opinião própria e não se assusta / Quando a milésima pessoa aponta para o seu cabelo e ri dizendo que / “Ele está em pé” / E a ignorância dessa coitada não a permite ver… / Em pé, armado, / […] / Pra mim é imponência / Porque cabelo de negro não é só resistente / É resistência.
Vocalizando a mulher negra, a autora expressa palavras de empoderamento para quem, de forma histórica, teve a sua estética desvalorizada pelos padrões sociais. Desse modo, ressignifica também a visão sobre os cabelos crespos, oriundos da raça negra".

Catástrofe

O autor do livro “A Morte e o Meteoro” traz à FLIB, através desta obra, a discussão da atualidade e nela, prevalece o sentimento do desastre, seja social, político ou ambiental. Joca Reiners Terron surge como um dos autores mais significativos da contemporaneidade.

Nasceu em Cuiabá, vive em São Paulo, Joca Reiners Terron é poeta, prosador e designer gráfico. Foi editor da Ciência do Acidente, pela qual publicou o romance Não há nada lá e o livro de poemas Animal anônimo. É autor também dos volumes de contos Hotel Hell, Curva de rio sujo e Sonho interrompido por guilhotina. Dele, a Companhia das Letras publicou Do fundo do poço se vê a lua, vencedor do prêmio Machado de Assis na categoria melhor romance.

E, como uma das principais características da literatura brasileira contemporânea é o ponto de vista da catástrofe, ficou no passado a “consciência amena do atraso”, adotada pelos modernistas da Semana de 1922 e pelos autores do romance nordestino de 1930. O ideal positivo de superar o atraso deu lugar ao pessimismo em relação ao progresso o que fica nítido no livro “A Morte e o Meteoro” (2019), escrito e publicado antes da pandemia da covid-19. Uma narrativa sofisticada e densa conta uma história futurista, porém assentada na realidade do presente brasileiro e mundial. O livro imagina a história de indígenas isolados na Amazônia que têm de ser exilados no México. Motivo: a floresta já foi totalmente destruída, e eles não têm mais o que comer, ficando até sem matéria-prima para seus remédios.

Direito a ter direito ao livro

“A FLIB, nessa 7ª edição, tem como repertório retomar uma questão presente desde a formação da literatura brasileira. Que natureza está ali representada? Que leitura fazemos do seu papel na cultura e no nosso cotidiano? Como nos posicionamos diante de seus valores vitais? Se a literatura é, de fato, um direito, como se dá o acesso à ela?”, indaga a curadora da Flib, professora doutora Maria Adélia Menegazzo.

O direito à literatura não se dissocia do direito à fabulação, por isso ler e contar histórias é uma prática libertadora, que permite acessar outros mundos, outras gentes, outras culturas, e com elas interagir. Decorre daí, o direito ao livro, às bibliotecas e à bibliodiversidade. A parceria da Secretaria de Educação do Município de Bonito tem sido fundamental para que essa formação leitora se concretize, garantindo a presença das escolas nos quatro dias de atividades.

Para repetir o sucesso das edições anteriores, a Flib contará com a presença de aproximadamente 40 escritores, entre nacionais e locais; oficinas de criação literária e de formação leitora; mesas de discussão; palestras e espetáculos de teatro, cinema e música. O fomento à economia do livro terá espaço reservado, com a presença de editoras e livrarias, completando-se a relação autor-livro-leitor.

A Flib este ano terá uma programação muito especial com atividades na Praça da Liberdade, shows, teatro, grupos musicais e performáticos, grupos musicais e performáticos, oficinas de formação, oficinas de criação, contadores de histórias, oficinas, jogos interativos, mostra de cinema Flib. A organização do evento prepara uma divulgação que envolve as escolas, educadores, comunidade do município, dos produtores e produtoras culturais, autoridades, pesquisadores, jornalistas, acadêmicos.

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