Um vídeo em que um crocodilo supostamente imita um humano se afogando viralizou nas redes sociais. Segundo repercutiu parte da imprensa, o comportamento teria evoluído na espécie como uma forma de enganar nossa espécie: ao enxergarem os crocodilos à distância, pessoas poderiam confundir o corpo do réptil com mãos de alguém que está se afogando. Assim, ao entrar para tentar ajudar a vítima, o Homo sapiens desavisado poderia virar almoço de crocodilo.
Segundo o G1, o potencial de espalhamento do vídeo fez com que especialistas viessem a público para desmentir notícia. Afinal, o crocodilo do vídeo não estava tentando atrair os humanos para as águas - e a explicação para o comportamento é muito mais simples do que a narrativa acima faz parecer.
O vídeo original, capturado na região do Rio Barito, na Indonésia, acumulou pelo menos 50 milhões de visualizações, antes de o perfil que o postou ter se tornado privado. Nas imagens, verifica-se que o réptil estava na água com a barriga para cima e balançava suas patas dianteiras no ar – um movimento semelhante ao que fazemos para pedir ajuda quando estamos nos afogando.
Por mais inteligente que a espécie seja e que os seus ataques não sejam tão incomuns assim, este não parece ser o caso da gravação. Casey Holliday, professor da Universidade do Missouri, nos EUA, disse à Newsweek classificou a ideia de o bicho agir como se estivesse em perigo para caçar como “histérica”.
O que aconteceu de fato?
Furtivos e sofisticados em suas predações, esses répteis não precisam recorrer a técnicas tão elaboradas para obter alimentos. Seus hábitos diversos permitem com que eles se nutrem de uma gama de outros animais, desde caranguejos até javalis.
Por isso, Brandon Sideleau, pesquisador da Universidade Charles Darwin, na Austrália, sugere que existem outras explicações mais plausível por trás do curioso comportamento do animal. “Meu palpite é que ele já tinha uma presa na boca. Já vi alguns crocodilos de água salgada que giram debaixo d’água quando estão se alimentando”, contou, ao Yahoo News.
Existem as possibilidades de o indivíduo estar com a cauda presa ou lutando com outro animal submerso. Ele também podia apresentar algum tipo de condição neurológica ou um problema comprometedor nas funções de seus canais semicirculares (estruturas do ouvido usadas para sentir a orientação no espaço tridimensional).
Na visão dos especialistas, todas essas explicações citadas parecem mais cabíveis do que a ideia de uma técnica especializada para a caça aos humanos. “Como os crocodilos sequer aprenderiam isso?”, questiona Sideleau.
Riscos da desinformação
Quando um vídeo viraliza, é muito difícil quantificar o número de pessoas que, de fato, tiveram acesso a ele. No caso deste material, sabemos que mais de 50 milhões de visualizações foram recebidas no perfil do proprietário do registro. Mas quantos outros não o viram em republicações de páginas paralelas ou outras redes sociais?
A desinformação de conteúdos relacionados à ciência é sempre perigosa. Fake news sobre as populações de crocodilos podem, por exemplo, levar pessoas a se revoltarem contra esses animais e, assim, ter respostas violentas quando os seus encontros acontecem. Na dúvida, vale a lembrança: cheque a informação antes de compartilhar.