Ademir e Daniela são um belo exemplo do amor de duas pessoas que se completam e superam juntos muitos limites. Só conhecendo a história dos dois, e da união do casal, para saber a grandeza desses limites. Pessoas que promovem a alquimia de transformar superação em um encantamento de carisma e força interior incomum. Em viagem a Bonito, a dupla que veio de Paulínea-SP sem avisar, conseguiu a proeza de ao conhecer as belezas naturais da cidade sul-mato-grossense, também se tornar uma atração paralela ao público.
Ademir de Campos, de 43 anos, é cadeirante, com limitação de movimentos nos braços e um impedimento sensorial dos membros inferiores, problemas que foram ocasionados após um acidente. Atualmente é aposentado da profissão de técnico em Eletrônica e mora em Paulínea, no interior de São Paulo, cidade onde se casou com a servidora pública Daniele Roberta Oliveira Boher de Campos, de 29 anos.
Por conta do glaucoma, Daniele ficou cega, mesmo após tentar reverter as consequências da progressão da doença em 28 cirurgias. Quis o destino que ela passasse a enxergar a vida pelos olhos de Ademir, que conheceu há dez anos em um projeto social para portadores de necessidades especiais que os dois participavam. De acordo com ele, foi amor à primeira vista, um amor para a vida toda que do primeiro beijo ao casamento precisou esperar só 12 meses.
“A Daniele é as minhas pernas e braços, enquanto eu sou os olhos dela. Nós nos completamos e por isso não vamos nos separar jamais. O que sentimos, e o que vivemos do amor não é comum. Temos a completa noção disso, algo que me realiza, me incentiva todo dia a fazer ela feliz”, diz Ademir sobre a companheira.
Aventura
E Ademir sabe como dar uma vida plena a Daniele. Prova disso foi a visita do casal a Bonito, no feriado de Tiradentes, que ainda ganhou uma esticadinha a Corumbá, dois destinos que a dupla ainda não conhecia, em Mato Grosso do Sul, lugar que ambos se encantaram.
Daniele havia se machucado em um acidente doméstico no início de abril e como incentivo à recuperação, Ademir prometeu levá-la a uma viagem inesquecível, promessa que cumpriu dirigindo por 17 horas de Paulínea a Bonito. O deslocamento só não foi mais rápido devido a ‘breve passagem’ por Campo Grande na ida, que fez o casal ficar perdido por três horas. Motivo: placas que não ajudam o turista a se orientar na cidade e informações errôneas nas consultas, além da falta de paciência do nativo da Cidade Morena, conforme os dois.
“Foi um momento de muita tensão e que quase desmotivou a gente a chegar em Bonito. As placas têm uma importância muito grande na orientação de viagens, que não pode ser negligenciada. Ficamos por horas andando sem achar o rumo certo, tendo já viajado por dez horas de Paulínea a Campo Grande. O que ajudou a superar esse obstáculo foi o nosso desejo por aventura, que impulsionava a chance de viver os passeios de Bonito”, conta Daniele sobre o caminho até o seu presente, oferecido por Ademir.
Superação
Se na Capital de Mato Grosso do Sul, Ademir e Daniele tiveram uma ‘aventura de paciência’, em Bonito o início também não foi dos mais agradáveis e novamente exigiu persistência do casal. Isso porque, como não tinham feito reserva precisaram ir a diversas pousadas e hotéis a fim de conseguir hospedagem.
Acharam por fim uma vaga na Pousada do Peralta, de propriedade do empresário Cícero Peralta, radicado em Bonito há 21 anos. Seu Peralta é dirigente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira em Mato Grosso do Sul, e um anfitrião que afirma ter sido inesquecível receber o casal em seu estabelecimento.
Todavia para agendar passeios, Ademir e Daniele não tiveram vida fácil. Precisaram também comparecer a várias operadoras de turismo da cidade, que segundo eles, simplesmente se recusavam a vender os pacotes dos passeios de aventura. Até que, na última tentativa, feita na Acqua, os dois conseguiram marcar a participação em quatro atrações, três delas em Bonito e uma em Corumbá, todas com acompanhamento especial de guia.
“É o tipo de atendimento que requer uma atenção diferenciada, porque não é comum, e exige uma estrutura dos pontos de turismo, assim como da agência, acima de tudo da disposição em ajudar o portador de necessidades especiais. Fizemos questão de vê-los como aquilo que eles se apresentaram: pessoas que vieram a Bonito viver opções de aventura”, diz o agente que atendeu o casal, Welkler Gonçalves.
Lado a lado
No roteiro acertado pela agência para Daniele e Ademir, designou-se o acompanhamento integral do guia Thiago César Martinez, que esteve presente nos passeios de flutuação nos rios Bonito e Sucuri, de boiacross no Rio Formoso, no de mergulho no Rio da Prata e na visita ao Buraco das Araras. Apenas no pacote comprado para Corumbá, no Day Use do Passo do Lontra Parque Hotel, que o companheiro de aventura não pode participar.
A Bonito, o casal promete voltar mais vezes e ainda indicar a cidade como opções de passeio aos amigos e sobretudo aos portadores de necessidades especiais que eles conhecem. Na cidade, Ademir diz que se sentiu acolhido e fez a escolha exata para o que gostaria de proporcionar à esposa, com turismo de contemplação, aventura, boa gastronomia, bom atendimento e sobretudo uma chance incomum de proximidade com a natureza.
Nesse pedaço do Mato Grosso do Sul se sentiram em casa, tanto é que praticaram em Bonito um hábito comum da vida em Paulínea. Daniele gosta de andar de patins segurando nas mãos de Ademir, e dessa maneira percorrem em passeio até cerca de 500 metros. “É um destino maravilhoso, especial e que é diferente de tudo que já conhecíamos. Ajudou a superar o 'trauma' da passagem por Campo Grande, com a gasolina a R$ 3,30 (em Paulínea é pouco mais de R$ 2,00 segundo ele) e termos nos perdido com aquela sinalização ruim. Gostei das atrações, mas de principalmente ter visto um banheiro adaptado na Barra do Sucuri”, brinca o visitante, que no mês que vem estará de malas prontas com sua amada para ir a Orlando, na Flórida.